Fui muito relutante em iniciar o uso de inteligência artificial, não por ser uma pessoa “anti-tecnologia”, mas pelo receio do que ela possa causar na ferramenta que eu tenho de mais importante para o meu trabalho: o meu cérebro!
Tudo começou a mais de 10 anos atrás, no primeiro livro que li sobre os efeitos da tecnologia em nossas vidas. O livro é esse aqui:
Lançado em 2011, o autor alerta sobre como o uso da tecnologia está mudando os nossos cérebros. Vamos nos situar no tempo:
- 2007 foi o lançamento do primeiro iPhone
- A popularização dos smartphones no Brasil se deu só depois de 2014 (opinião minha, sem citar fontes)
- Nesse época, as redes móveis eram horríveis e caras
Ou seja, a alteração dos nossos cérebros com que o autor se preocupava foi bem antes do amplo acesso à internet, especialmente no mobile.
Isso nos leva à conclusão de que hoje a situação deve ser muito pior.
O que preocupava o autor em 2011?
A argumentação central do livro é que com o uso da internet, nosso cérebro está perdendo algumas capacidades, pois elas são terceirizadas para a tecnologia. Exemplos:
- Não memorizamos mais informações, terceirizamos ao Google
- Perdemos a capacidade de leitura linear de um texto, hoje lemos pulando entre as páginas (e o autor nem imaginava na época como seria a leitura em tempos de TikTok, Reels e toda a hiperestimulação dos vídeos curtos)
- Pessoas que fazem leitura de textos ricos em links (que permitem consultarem outras fontes no momento da leitura) se recordam bem menos do texto do que aquelas que leram sem esses links
Mas isso não é só diferente?
Poderia até ser. Podemos assumir que é inútil eu memorizar os números de telefone e datas de aniversário da minha família e amigos (como eu sabia na minha adolescência), mas isso são maneiras de exercitar o nosso cérebro que botam ele para funcionar.
A prova disso é que a geração que não tem mais esse exercício do cérebro e memória é menos inteligente do que a anterior. É nítido e lamentável constatar a incapacidade de raciocínio dos jovens de hoje.
Eu não afirmo isso com soberba, me achando melhor do que os mais jovens, mas com profundo pesar, pois eles não desenvolvem as suas capacidades intelectuais como poderiam.
O que a IA tem a ver com isso, então?
Se já não exercitávamos o cérebro nem para lembrar o número de telefone da namorada, imagina o que acontece quando pedimos para a tecnologia “criar” coisas para nós. Isso vai gerando uma preguiça e diminuindo a nossa capacidade mental. Fui muito relutante em usar a IA por isso. Quando a uso, é somente para fins de pesquisa, como se fosse um “Google turbinado”, mas não peço para ela criar nada.
Eu quero seguir aprendendo e melhorando o meu cérebro para cuidar daquilo que tenho de mais precioso para a minha vida profissional.